Comunidade Surda

retângulo laranja com textos em preto e foto de Gustavo Fontes

Eu comecei a estudar numa escola de ouvintes, onde não percebia minha diferença em relação aos demais alunos e alunas. As dificuldades de aprendizagem na
fase de alfabetização, devido ao não entendimento lingüístico apenas pela via auditiva, fizeram com que minha família procurasse novos caminhos escolares.

Assim, eu entrei na escola para pessoas surdas que se chama Derdic. Foi assim que comecei a ter contato com a comunidade surda. No início, fiquei totalmente perdido, pois eu não havia aprendido LIBRAS. Comecei a me comunicar com outras pessoas surdas e assim fui compreendendo a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
Adorávamos ir à aula de educação física e também às outras aulas. Participávamos de campeonatos com outras escolas.
Na escola, havia pessoas adultas também, que já tinham mais experiência no mundo da surdez, e nos informaram sobre a Associação dos Surdos de São
Paulo (ASSP). Eu e uma certa quantidade de alunos e alunas ficamos com muita curiosidade para saber mais sobre a Associação. Um dia, resolvemos ir até a Associação dos Surdos de São Paulo. Foi quando
conheci muitas outras pessoas surdas, jovens, adultas e idosas.

Atualmente, a ASSP já tem mais de 60 anos e colabora muito para o crescimento da comunidade surda, que sempre foi sendo fortalecida. É na comunidade surda que nós podemos buscar os conhecimentos, o contato com a cultura surda, os esportes, as muitas experiências e onde nossa língua (a de Sinais) é constituída e propagada. Nós, pessoas surdas, temos orgulho e muita satisfação de nossa história, de nossa língua e dos cidadãos e cidadãs que somos dentro da sociedade na qual fazemos parte!

Entendo que é muito importante para pais, mães e demais familiares de crianças surdas, bem como à todo alguém que acredite numa sociedade igualitária de direitos e deveres, conhecer e participar da Associação de Surdos, do universo surdo. Pois é desta maneira que construiremos um futuro onde as diferenças sejam respeitadas e valorizadas.

Acessibilidade em LIBRAS

Conforme meu relato acima, fica claro que, quando eu era pequeno, meu contato com LIBRAS não aconteceu antes dos 9 ou 10 anos de idade.

As questões de acessibilidade em LIBRAS nem eram comentadas, pois a palavra acessibilidade nem era muito questionada. Indivíduos diferentes como eu, que necessitavam de acessibilidade em LIBRAS, deveríamos ficar junto com a maioria, ou seja, ouvinte. Portanto, usar LIBRAS, segundo os estudiosos, não era algo que era permitido às pessoas surdas.

Mas os estudos e questionamentos foram aumentando e deram lugar à reflexão e à mudança de pensamento e ação. Outro fator importante, é que a própria comunidade surda foi modificando e se fortalecendo. Os anos foram passando e barreiras foram quebradas, portas se abriram e necessidades, direitos e deveres foram sendo conquistados e respeitados.

Digo que hoje, como adulto que sou, estou vendo o quanto nossa comunidade surda conseguiu avançar bastante e ainda continuamos a lutar. Imagino que as
novas gerações com certeza terão uma sociedade ainda melhor do que na minha época, porque nossa comunidade surda está trazendo a melhora para o futuro das novas gerações! Um grande abraço!

Gustavo Fontes é graduado em tecnologia e mídias sociais com pós-graduação em Administração de Empresas. É surdo e professor regente de LIBRAS há 18 anos.