Aceitação

retângulo roxo com textos em preto e foto de Selma Rodeguero

Aceitar-se como uma pessoa com deficiência é um dos trabalhos psicológicos mais difíceis, mas é a partir daí que a vida começa a melhorar, a realmente “andar pra frente”. Precisamos nos aceitar, acima de tudo, para sermos felizes. E essa autoconfiança adquirida a partir da aceitação é que faz toda a diferença para uma autoestima elevada e conseguir ir atrás dos seus sonhos. É o que dá a coragem de se jogar…

Eu me aceitei. Sou cadeirante muito bem resolvida e nem por isso sou melhor que ninguém. Mas vivo tão bem, tão bem, que estou escrevendo agora para estimular quem ainda não chegou a esse nível, a ter essa ousadia. Se permita.

Gostaria que todos sentissem o que eu sinto, a força e a autoconfiança que dá ao se aceitar como pessoa com limitações, mas nem por isso pior ser humano.

Nós todos somos diferentes e únicos, cada um na sua essência, cada um na sua identidade. Cada um tem as suas características, as suas angústias, as suas felicidades, enfim, os seus sentimentos. E se aceitar é o primeiro passo para uma autorrealização.

O problema é que a gente vive numa sociedade que, em muitas vezes, não aceita a gente como a gente é. Pode ser por preconceito, ignorância, e até mesmo porque a gente foge do padrão dito “normal”. As pessoas esquecem que ser diferente não é ser pior ou melhor que ninguém, é ser apenas diferente. Simples assim. Muita gente tem uma vida diferente do modelo comum, conforme a sociedade, e é marginalizada, sofre com o isolamento e a discriminação, perde seus direitos, perde sua autoestima.

Nesse mundo que a gente vive, tão desigual, onde alguns tem mais chances do que outros, precisamos ter acesso à dignidade, nessa luta frenética e incansável para que nossos direitos sejam respeitados, se torna ainda mais necessária essa aceitação, para nos munir de todas qualidades necessárias que essa luta exige.

Quando passamos por conflitos internos, já é difícil se aceitar. Com uma deficiência, se torna mais difícil ainda. E como o mundo está hoje, com todas as mudanças, fica ainda mais urgente e preciso que nos aceitemos, porque só mudando o mundo interno é que conseguimos mudar o mundo externo.

Eu sei o peso que é não se sentir aceito e o estrago que isso provoca em nós. Por isso, nesse processo, não lute contra você, ame sua deficiência, suas dificuldades. Sei também que isso exige coragem e amor. Seja você, acredite que sua deficiência não te define, só te faz diferente, e isso nunca será um problema. Se reconheça como capaz! E assim, o mundo te enxergará.

Selma Rodeguero é cadeirante, formada em administração de empresas, presidente de Fundação Selma, Youtuber com o canal “Rodando com Pi”, e empresária com a empresa Thea Eventos. Hoje faz parte do grupo “Todos pela acessibilidade”, representando as pessoas com deficiência na política.