Setembro Surdo

retângulo azul escuro com textos em branco e foto de Rafael Silva

Setembro é um mês para celebrar as inúmeras conquistas que a comunidade Surda acumulou ao longo dos anos. Direitos adquiridos através de muita luta e mobilização.

Neste mês, em todo país, acontecem inúmeros encontros, palestras, lançamentos de livros e muitas atividades promovidas pelas associações e instituições que desenvolvem ações sociais, políticas, culturais e educacionais com as pessoas surdas com o objetivo de construir uma reflexão sobre o lugar social que possuem e como garantir que o Estado promova de forma igualitária, uma cidadania digna e plena.

O “Setembro Azul” é um mês de visibilidade e representatividade para as pessoas surdas, mas precisamos refletir e lutar para que esse momento marcado através de luta e resistência continue ao longo dos outros meses do nosso calendário, visto que aspectos culturais e de identidade estão envolvidos.

Meus alunos ouvintes sempre perguntam se os surdos têm o que comemorar? No meu lugar de fala como ouvinte, acredito que sim porque nos últimos anos observamos que a acessibilidade aumentou, o surdo pode estudar com o apoio de um tradutor-intérprete educacional, ir a atividades culturais e circular numa sociedade majoritariamente de ouvintes podendo praticar sua cidadania baseada no respeito à diversidade.

Mas ainda precisamos avançar!

Muitos amigos surdos que precisam de um atendimento hospitalar não conseguem ser atendidos em sua língua, pois os hospitais não oferecem um atendimento bilíngue. Ainda uma mãe surda não consegue realizar um pré-natal e saber as informações sobre a sua saúde e a do seu filho em sua própria língua, que é a Libras e, muitas das vezes, precisa comunicar-se através de bilhetes. Alunos surdos não conseguem fazer um cursinho preparatório para vestibular porque as grandes empresas desse setor recusam as suas matrículas. Como garantir o acesso ao Ensino Superior para milhares de jovens que sonham em dar continuidade aos estudos? Esses são alguns exemplos, mas garanto que se você faz parte da comunidade surda terá outros exemplos como esses.

Que tal desenvolvermos a empatia?

Pessoas surdas são iguais a todos: tem sonhos, esperanças, tristezas, angústias, amam, se irritam, brigam, são profissionais, casam-se, tem filhos, são solteiros, envelhecem e pensam também no futuro.

Devido ao momento histórico marcado pela pandemia da COVID-19, momento que o planeta Terra se recolheu em suas casas, a acessibilidade continuou através das interpretações nas diversas LIVES transmitidas pela internet e tv, proporcionando, além de informações, também entretenimento, que nesses momentos de incertezas foi uma excelente companhia. Parabéns a empresas que pensaram nisso, como a Work Libras.

Existem várias iniciativas promovidas por instituições governamentais através de projetos bem interessantes, como por exemplo, a Delegacia de Polícia da Pessoa com Deficiência – DPPD, que atende a população de forma maravilhosa. Há ainda alguns museus, como o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) com materiais de acessibilidade e educadores surdos, dentre outras.

Um dos aspectos que também precisamos avançar é na educação bilíngue e formação de professores inicial e continuada. Nos ambientes escolares, as duas línguas (Libras e Língua Portuguesa) precisam coexistir e nossos professores precisam de novas estratégias educacionais bilingues e promover as adaptações curriculares para que nosso aluno surdo tenha acesso em sua plenitude aos componentes curriculares propostos pela Base Nacional Comum Curricular.

Minhas afirmações e questionamentos são apenas para refletirmos sobre que modelo de sociedade queremos, que sociedade inclusiva estamos construindo, lembrando que direitos linguísticos e culturais precisam ser assegurados e que a visibilidade que o povo Surdo conquistar este mês possa servir para dar continuidade a quebrar barreiras em nossa sociedade durante todo o ano.

Em ano eleitoral, você já pensou em escolher um representante surdo nas próximas eleições? Olha que tem pessoas incríveis disputando algumas vagas no legislativo.

Saudações sinalizadas.

Prof. Me. Rafael Dias Silva é criador do Projeto Libras na Ciência e professor, escritor, diretor, coordenador pedagógico. É graduado em Ciências da Natureza pela Universidade de São Paulo (USP). Formou-se em Libras, pela Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos FENEIS, conta com o título de Pesquisador e Especialista em Educação de Surdos, professor de Educação Inclusiva – Libras na Faculdades Drummond para os cursos de Pedagogia, Letras e Matemática. É Mestre em Educação voltada para a formação de professores na área de educação inclusiva e atualmente aluno do programa de doutorado em Educação.