A diferença é que somos todos iguais!

retângulo azul escuro com título vozes inclusivas em branco e foto de Fabiano

Numa rodinha de amigos, conversávamos todos em Libras por conta de termos ali dois amigos surdos e mais dois ouvintes que sabem os sinais, quando ouço uma pessoa atrás comentar: “Nossa, eles são tão bonitos. Pena que não falam e não escutam”.

Essa história aconteceu alguns anos atrás quando estava num evento numa cidade do interior de São Paulo. Aquele dia me fez refletir acerca da questão dos termos superação e oportunidade.

Superação nunca foi um termo que gostava de ouvir ou usar, porque sempre me questiono porque apenas pessoas com deficiências precisam superar algo, sendo que são pessoas como as demais que usam suas habilidades e limitações, assim como eu e você!

Quando estou com meus amigos surdos, me sinto muito igual porque dialogamos em Libras, que é a Língua Brasileira de Sinais. Não há como notar quem é surdo ou ouvinte, a não ser pelo fato de alguns usarem aparelho auditivo. Tudo isso para dizer que surdez não possui rótulos ou características.

Tenho alguns amigos surdos e o que vejo de diferente neles é que alguns são engraçados, outros tímidos e outros amam viajar como eu.

Acredito que devemos sempre perguntar às pessoas como elas querem ser chamadas e tratadas. E isso nos dá um diferencial, pois somos seres individuais e únicos. Não vejo a pessoa surda como pessoa “deficiente”, mas que se comunica de outra forma e possui sua própria língua e cultura.

Devemos sempre entender qual nosso posicionamento. Sou ouvinte que sei Libras e, como tal, posso falar a respeito da minha profissão: tradutor/intérprete de Libras. Mas nunca posso falar como é ser surdo, pois não vivo essa realidade.

Vamos compreender as pessoas, dialogar, colocar em prática a empatia e equidade. Isso, na minha visão, combina com oportunidade e não superação. Sim, somos diferentes e muitos parecidos, mas singulares e questionáveis.

A Libras é uma língua oficial no nosso país e é distinta da língua portuguesa. A primeira possui suas estruturas próprias e variações linguísticas e não é universal. A língua brasileira de sinais teve influência da França, diferente da língua portuguesa que teve influência de Portugal.

Gosto de ser chamado de tradutor/intérprete de Libras, profissão essa que exerço na esfera artística. Minha formação não tem nada a ver com a mímica ou pantomina. Fiz curso de teatro para aperfeiçoar minha postura e linguagem corporal e expressões. Mas isso por conta do ramo que atuo e não por conta da língua de sinais.

Oportunidades são essenciais para mostrarmos ao que viemos, o que gostamos e quem somos. Por isso, caso queira superar algo, supere primeiro seu preconceito e esteja aberto a conhecer aquilo que não temos acesso.

Acesse conhecimentos e compartilhe vivências!

Fabiano Esteves Campos é intérprete de LIBRAS com reconhecimento pelo MEC e formado em Jornalismo pela Universidade Cruzeiro do Sul. Cursou teatro pelo ETA (Estúdio de Treinamento Artístico) e no Teatro Folha em São Paulo. Convive com a comunidade surda há 20 anos e atua como intérprete de Libras na esfera artística, interpretando teatro, show, contação de história, vídeos institucionais, eventos e outros.