A Inclusão começa no Eu

sobre fundo degradê azul, o título Vozes Inclusivas em branco e foto de Gisleine à direita

Desde o berço, a criança sente o ambiente, a criança quer nela o ser humano. A nossa primeira vontade foi a de pertencer, nos lembra Clarice Lispector.

Abraham Maslow, psicólogo americano famoso em meados do século XX, argumentou que as necessidades de crescimento e felicidade individual não podem ser supridas sem primeiro satisfazermos a necessidade mais básica da conexão humana. É através dos laços afetivos com os outros que conseguimos alcançar o nosso pleno potencial como seres humanos.

Inevitavelmente, crescemos levando em consideração a forma como somos percebidos pelos outros, o nosso autoconceito e a percepção que os outros fazem a nosso respeito alteram diretamente o modo como agimos. Começamos a busca de interação, de complementariedade de si e, logo, surge a necessidade de reconhecimento dos outros. A minha atitude social passa a se basear nas exigências e solicitações dos outros e da sociedade sobre mim, o que na maioria das vezes nos faz sentir insatisfeitos, infelizes e ineficientes em diversas áreas de nossa vida.

Pessoa e sociedade se encontram unidos, como mente e corpo. Argumentar sobre o que é mais importante é como debater se é o oxigênio ou hidrogênio a propriedade mais essencial da água. Não pode haver escolha. Eu e sociedade são inseparáveis. Até porque é impossível progredir sozinhos, é impossível modificar um elemento em uma cultura sem alterar todos os outros.

“A nova pessoa cria a nova coletividade” …

Mas nossas percepções sobre as necessidades e as capacidades humanas têm mudado. Por exemplo, se de repente tivéssemos que nos deparar com seres extraterrestres, sem dúvidas ficaríamos horrorizados, imaginando como poderíamos nos comunicar com eles e o que estariam desejando de nós. Fica fácil perceber. É a imagem de um novo ser humano que é estranha. Ao vermos padrões e possibilidade que nunca vimos antes, nos sentimos inquietos.

A verdade é que nós temos sido vítimas de nossa consciência coletiva dividida. Não percebendo que nossa espécie evoluiu em cooperação, optamos pela competição no trabalho, na escola, em nossos relacionamentos. Por ignorância e por arrogância, estivemos trabalhando contra a natureza.

“É preciso transver o mundo”, adverte o poeta Manoel de Barros.

Uma sociedade com pessoas pouco seguras de suas capacidades gera uma resistência em aceitar o “novo” e, por isso talvez, seja tão difícil aceitarmos o outro, o “diferente”, porque aceitar o outro como igual a mim, obriga-me a aceitar a minha própria alteridade, a encarar minhas dores e conflitos e parar de negar as minhas falhas.

A inclusão do Eu propõe que lancemos um novo olhar sobre este outro que está ao nosso lado.

A inclusão do Eu nos lembra a urgência de revermos e criarmos novos rumos, que sejam mais saudáveis pra si e para o outro.

A inclusão do Eu leva-nos a um encontro com esse outro, que além de um “perigo” eminente a nossa “normalidade” possa nos transportar para além de nós mesmos.

INCLUSÃO (de José Carlos Sartori)

Eu sou a inclusão…
Eu estou incluído em você…
Se não tem seus olhos. Eu os sou.
Se não ouves. Eu escuto por ti.
Basta que você queira.

I
Pode andar com minhas pernas…
Falar com minha língua.
Mas pensar? Só por ti mesmo.
Só o interpreto.

II
Essa boquinha pequena e um pouco aberta
Esse rostinho achatado…
Esses olhinhos miúdos com inclinação lateral…
Não me engana! Você é um Down

III
Se quiser chorar. Chore!
Se quiser rir. Ria!
Mas será por tua vontade.
Farei de ti um cidadão livre

IV
Sua hora ainda não chegou.
Ainda não podes fechar teu livro.
A lição não acabou.
Sou seu mestre. Seu professor.

Que despidos de preconceitos e medos, sejamos capazes de confessar nossa estupefação e nossa alienação e re-dirigir o olhar sobre este outro, sustentados num olhar para dentro de si mesmo.

Gisleine Yamada é psicóloga por vocação e profissão, completamente apaixonada pelo potencial do desenvolvimento humano. Atua na abordagem sistêmica existencial e busca valorizar cada pessoa em sua singularidade, contribuindo para uma maior compreensão dos fenômenos e os padrões que se repetem através das gerações e que podem bloquear o desenvolvimento da pessoa em diversas áreas, como vida pessoal, profissional, familiar, nos relacionamentos, na saúde, finanças, dentre outros. Sua missão? Aproximar você de VOCÊ!