Acessibilidade como oportunidade de novos negócios

sobre fundo degradê verde, o título Vozes Inclusivas em branco e foto de Juliana à direita

A minha deficiência visual é congênita. Tenho cegueira total nos dois olhos. Não enxergo e nunca enxerguei absolutamente nada. Mas isso nunca foi um problema para mim. Apesar das dificuldades que aparecem no caminho, não faço da minha deficiência um empecilho.

Falar sobre acessibilidade e inclusão é sempre muito importante porque esse tipo de informação ainda é de grande estranheza e desconhecimento para muitas pessoas.

Quando fui convidada para escrever algo sobre inclusão, vários assuntos vieram na minha cabeça. O fato da acessibilidade, infelizmente, não se fazer presente em muitos lugares, torna a gama de assuntos a serem abordados bem maior.

Para escolher um tema, baseei-me no meu cotidiano. Em algo que se fosse acessível, facilitaria e daria muito mais autonomia para as pessoas cegas. Estou falando da falta de acessibilidade nos cardápios dos restaurantes e nos rótulos dos produtos.

A pessoa com deficiência quer ter a maior autonomia possível. Apesar de sabermos que em algumas situações a ajuda será necessária, ter independência não tem preço!

São poucos os restaurantes que têm cardápio em braille ou em áudio. Por isso, é sempre necessário pedir para alguém que está te acompanhando ou alguém que trabalha no local fazer a leitura.

Nos restaurantes self services, também não há sinalização. Nesse caso, é necessário pedir auxílio para saber o que tem de comida e para montar o prato. As placas indicativas com o nome da comida deveriam ser acessíveis.

Ir ao supermercado ou à farmácia sem auxílio de ninguém também não é possível. Isso deve-se ao fato de que a maioria dos produtos não apresentam rótulos em braille. E os poucos que possuem braille, não contêm todas as informações necessárias. Por exemplo, data de validade e preço é algo que não está escrito.

Outro ponto importante a se ressaltar é o fato de os leitores de preço dos produtos não serem adaptados. Quando quero saber o preço de algum produto e preciso passar no leitor de código de barras, tenho que pedir ajuda. Pelo simples motivo de que essas máquinas não contêm áudio.

Pedir comida ou fazer um pagamento nos auto atendimentos não é uma tarefa possível de se fazer sozinho, uma vez que essas máquinas não nos dão essa possibilidade por não apresentarem áudio ou sinalização nos botões, que ainda por cima são touch.

Para nós, pessoas com alguma deficiência, acessibilidade significa independência, autonomia. Conseguir navegar em um site, saber o que há em uma foto, entre outras atividades, de forma totalmente autônoma, é uma enorme conquista para nós. Mas, infelizmente, o lema “estar ou ser acessível” não se faz presente em uma grande parte do cotidiano. Para uma grande parcela da população, esses termos são desconhecidos ou pouco falados.

O intuito desse texto é fazer um alerta. É mostrar que pessoas com deficiência também são consumidoras e querem ter acesso ao mundo de forma 100% autônoma.

Juliana Kubo tem 28 anos, é assistente administrativa e bacharel em Letras pela PUC-SP.