Empatia é coisa de criança?

      Duas crianças de pele clara, uma de frente à outra, estão com os pés na beira do mar

Em um mundo volátil, incerto, ambíguo e complexo, é essencial pensar sobre como ficam as relações entre pais, mães e crianças, entre educadores e educandos. Já é fato que o crescimento tecnológico e informacional é exponencial e que o fenômeno da “internet das coisas” é um caminho sem volta.

Em meio a toda essa nova dinâmica social movida pelo foco no “eu”, como fica a qualidade da educação e do desenvolvimento cognitivo das nossas crianças?

Como cultivar hábitos saudáveis para relações e diálogos analógicos que sejam mais respeitosos e verdadeiros em meio à zumbificação de legiões de crianças e adolescentes que andam com seus globos oculares hipnotizados pelo canto das pequenas telas de celulares?

A resposta reside em uma palavrinha poderosa que, de repente, começa a pipocar cada vez mais em seminários, blogs, palestras e artigos relacionados à inteligência emocional e à educação: empatia. Sim, a arte de nos colocarmos no lugar de outra pessoa através de uma sintonia tão afinada a ponto de compartilharmos das mesmas emoções e sentimentos que ela.

Quanto mais estudo, converso e leio a respeito da empatia, mais me convenço de que ela é a poção mágica de que tanto a humanidade precisa. De que nossas crianças precisam para uma vida adulta mais equilibrada, mais sã.

No Canadá, uma instituição sem fins lucrativos já está mudando essa realidade. A iniciativa Roots of Empathy (Raízes da Empatia) foi criada há 23 anos pela educadora Mary Gordon e está presente em 13 países. O programa leva bebês para dentro de salas de aula de turmas de crianças entre 5 a 13 anos de idade. As crianças sentam-se ao chão formando um círculo e o bebê fica ao centro junto a um de seus responsáveis e uma instrutora.

As crianças são convidadas a pensarem e a responderam a instrutora sobre o que acham que o bebê está pensando naquele momento, o que ele ouve, o que ele faz e o que ele sente. Desta forma, elas fazem o salto imaginativo no lugar do bebê e conseguem olhar o mundo ao seu redor com outra perspectiva. O resultado do programa surpreende: a equipe faz mensurações nas escolas infantis onde aplicam o programa e constatam queda nos episódios de “bullying” e agressões, melhora do entrosamento entre crianças e desenvolvimento de aspectos sociais e emocionais dentro das famílias.

O Roots of Empathy é uma prova cabal de duas coisas: a primeira, que empatia pode e deve ser aprendida, trabalhada e mantida desde a mais tenra idade; e a segunda, de que a empatia impacta significativa e exponencialmente a sociedade como um todo, começando a partir do núcleo familiar.

Para o psicólogo estadunidense Carl Rogers, existe uma relação direta nos processos de aprendizagem e no desenvolvimento cognitivo com a saúde de cada indivíduo. As crianças são empáticas desde cedo e comprovam isso em situações corriqueiras. Mas nem sempre as olhamos com a perspectiva delas. Nossa tendência é corrigi-las, repreendê-las, falar o que é certo e o que é errado. Assim, o hábito natural de se empatizar se abala.

Chegamos à vida adulta e, com ela, a constatação de que não conseguimos mais ouvir ativamente o outro, de não conseguirmos guardar conosco nossos julgamentos.

Para que possamos mudar o mundo ao nosso redor para melhor para nossas crianças e adolescentes, precisamos nos voltar a eles e retomar de onde paramos: precisamos resgatar a empatia inocente e espontânea.

Separamos 5 dicas para começar a partir de hoje o processo de mudança dentro do seu espectro de sociedade.

  1. Acredite que empatia pode ser aprendida ou reaprendida. 98% da população tem a capacidade de empatizar, pois é da natureza humana. As crianças recém-nascidas manifestam desde cedo sinais de empatia ao chorar em resposta ao choro dos outros bebês na maternidade.
  2. Seja autêntico com crianças e as respeite enquanto indivíduos. Não repreenda um choro ou uma expressão de raiva. Converse e pergunte como ela se sente. Procure entender os sentimentos que há por detrás daquela reação.
  3. Dê menos ordens e ouça mais. Considere a possibilidade de que suas crenças e verdades nem sempre são absolutas. Estamos falando de uma nova geração, novos tempos, novas verdades. Pergunte a opinião da criança e estimule que ela verbalize seus pontos de vista, sem julgamentos.
  4. Dê o exemplo.
  5. Estimule o imaginário criativo e a curiosidade. Brincadeiras, contação de histórias, desenhar e até ver desenhos animados juntos são formas extremamente saudáveis que promovem a tomada de perspectiva do outro, através de personagens e avatares.

Como está sua empatia? Sabia que você pode aprender a desenvolvê-la?

Saiba mais na nossa Oficina de Empatia.