Por uma sociedade inclusiva em todas as fases da vida
Temos percebido que Diversidade e Inclusão (D&I) nos negócios tem se tornado uma pauta presente no planejamento estratégico da maioria das empresas em todo o mundo. Não é para menos. Pesquisas realizadas por importantes consultorias no Brasil e no mundo têm demonstrado que a performance das empresas que investem na promoção de um ambiente inclusivo e de não discriminação têm obtido resultados melhores que empresas que não possuem o tema em sua pauta estratégica.
No estudo “Diversity Matters: América Latina”, de junho de 2020, a consultoria McKinsey pesquisou 700 grandes empresas de capital aberto no Brasil, Chile, Peru, Argentina, Colômbia e Panamá. Ele mostra que as empresas que adotam a diversidade como pauta estratégica são mais inovadoras, colaborativas e rentáveis do que seus pares que não a adotam. A explicação para essa afirmação é que 63% dos colaboradores que trabalham em empresas comprometidas com D&I indicam que estão felizes no trabalho, em comparação com apenas 31% das demais empresas. Além disso, os funcionários de empresas comprometidas com a diversidade desejam permanecer mais tempo e aspiram alcançar níveis mais altos na organização.
Em outra pesquisa global da McKinsey com mais de 1000 empresas em 12 países, realizada em 2018, constatou-se que empresas com maior diversidade de gênero são 21% mais propensas a ter lucratividade acima da média e com maior diversidade étnica, 33%.
Aqui no Brasil, a consultoria Hay Group pesquisou 170 empresas em 2015 e os achados foram que 76% dos colaboradores das empresas que se preocupam com D&I sentem que têm espaço para expor suas ideias e inovar no trabalho, contra 55% das demais. Além disso, quando o ambiente de diversidade é reconhecido, os colaboradores estão 17% mais engajados e elas viram a receita líquida crescendo 4,5 vezes mais do que as demais, em um período de 4 anos.
Esse recorte de dados ilustra o motivo de as organizações investirem na promoção de um ambiente mais diverso. Os resultados organizacionais são melhores. É a partir das diferenças de opiniões e pontos de vista, das singularidades de cada ser humano, das histórias de vida diversas, do entendimento das necessidades e anseios do outro que uma equipe diversa obtém resultados melhores e mais assertivos que outra com membros muito parecidos entre si.
Somos seres diversos e singulares por princípio e quanto mais cedo tivermos a oportunidade de conviver e interagir com pessoas diferentes, mais oportunidade teremos de desenvolver esses valores fundamentais para que tenhamos uma sociedade consciente e respeitosa das diferenças humanas.
Nas escolas, esta premissa também é realidade. As antigas “escolas especiais” deram espaço às “escolas inclusivas”, onde não se diferencia a criança com deficiência, que também é cidadã, como todas as outras. O modelo de “escolas inclusivas” valoriza as pessoas com deficiência no ambiente educacional regular, sendo esse um modelo já testado e validado na maioria dos países. Embora tenhamos consciência que ainda há muito a se fazer para que a educação inclusiva se desenvolva de forma efetiva, quanto à formação de professores, educação de familiares e investimentos em acessibilidade para o desenvolvimento de ambientes inclusivos para todos os alunos, é o certo e único caminho a ser percorrido.
Segundo estudo da Alana intitulado “Os Benefícios da EDUCAÇÃO INCLUSIVA para Estudantes com e sem Deficiência”, estudar em ambientes que valorizam a diversidade, em que estão juntos estudantes com e sem deficiência, resulta em inúmeros benefícios para os alunos com deficiência. Mas, não só. Os benefícios também foram identificados para alunos sem deficiência, tais como:
- redução do medo das diferenças humanas, acompanhada por um maior conforto e consciência (menos medo de pessoas com aparência ou comportamento diferentes);
- crescimento da cognição social (aumento da receptividade aos outros, comunicação mais eficaz com todos os colegas);
- melhorias no autoconceito (aumento da autoestima, do status percebido e da sensação de pertencimento);
- desenvolvimento de princípios morais e éticos pessoais (menos preconceito, maior capacidade de responder às necessidades dos outros); e amizades carinhosas
O levantamento apresentado pela Alana que reúne mais de 280 estudos realizados em 25 países corrobora com os resultados apresentados pelas pesquisas realizadas nas organizações sobre os benefícios de um ambiente diverso e inclusivo.
O convívio desde cedo com as diferenças reduz os estereótipos de incapacidade em relação às pessoas com deficiência, assim como atitudes capacitistas (preconceito contra a pessoa com deficiência) e de intolerância em relação às diferenças do outro.
O aprendizado a partir das diferenças desde a fase escolar ajudará inclusive que estas mesmas crianças, quando adultas, respeitem, não discriminem, não sejam preconceituosas e sim empáticas em relação ao outro, sendo essas as habilidades desejadas e esperadas no ambiente organizacional.
Flávia Cortinovis é administradora de empresas com MBA na área de Gestão Empresarial e Gestão de Projetos pela FGV com mais de 20 anos de experiência na área de Qualidade e Melhoria de Processos. Desenvolveu metodologia acessível e replicável de capacitação para pessoas com deficiência intelectual, aplicada em várias cidades do Brasil, Europa e América Central. É sócia na UDiversidade Corporativa e atua como consultora em temas de Diversidade e Inclusão, como diagnósticos, planejamento estratégico, programas de educação, workshops e mentoring.