Audiodescrição é lei e realização pessoal
Eu nunca tinha parado para pensar como as pessoas com deficiência visual compreendiam filmes, novelas, séries e outras obras audiovisuais.
Conheci a audiodescrição e me interessei por ela a princípio por ser profissional da voz e, assim, ter mais uma oportunidade de trabalho. Mas, no decorrer do curso que fiz, fui me apaixonando pela técnica. Vi o quanto ela é importante e pouco utilizada.
De acordo com a Wikipédia, “audiodescrição é uma faixa narrativa adicional para pessoas com deficiência visual, intelectual, dislexia e idosos, consumidores de meios de comunicação visual, onde se incluem a televisão, o cinema, a dança, a ópera e as artes visuais”.
Mas como ela deve ser vista e tratada na realidade, no dia a dia?
Para a audiodescrição cumprir seu papel, ela deve ser breve e concisa, evitar expressões com significados semelhantes ou dúbios e suposições. Mas como não detalhar tanta coisa que eu, pessoa com a visão preservada, vejo? No início eu fazia meus roteiros contemplando tudo que via e julgava importante para a compreensão: as diferenças de cores e tons, as texturas, as expressões faciais e corporais nos mínimos detalhes… E meu texto ficava enorme, não cabia na obra. Eu queria que a audiodescrição permitisse à pessoa com deficiência enxergar tudo o que eu enxergava, para assim contemplar todos espectadores da mesma forma.
Fui estudar mais o assunto para saber de que maneira eu poderia contribuir de verdade e não só fazer como mais um produto em meu trabalho de locutora. A qualidade do serviço, assim como a qualificação dos profissionais, é de extrema importância para garantir conteúdos mais inclusivos, para que pessoas com deficiência não percam nenhum detalhe. A boa notícia é que há um aumento significativo de materiais de estudos como artigos publicados e pesquisas que têm melhorado a qualidade da audiodescrição com o objetivo de atender este público com maior eficácia.
A audiodescrição pode ser gravada, ao vivo roteirizada e ao vivo não roteirizada. E esta última é a forma mais difícil e que requer maior habilidade do profissional para realmente atingir o objetivo e não apenas cumprir as metas estabelecidas por lei. Desde 2014, a Ancine (Agência Nacional do Cinema) estabelece que todos os projetos de produção audiovisual financiados com recursos públicos devem ter legendas descritivas, audiodescrição e LIBRAS.
Na televisão brasileira, a audiodescrição é obrigatória desde 2011. A legislação está em constante ampliação, aumentando a obrigatoriedade da audiodescrição com o passar dos anos. Em julho de 2020, a audiodescrição passou a ser obrigatória por 20 horas semanais entre às 6h e 20h.
Em resumo: a audiodescrição é um direito. A pessoa deve saber o que está acontecendo nas imagens, para que ela compreenda e aproveite totalmente todos os tipos de obras audiovisuais. Este trabalho me traz uma satisfação pessoal imensa que eu nem imaginava sentir antes de conhecer.
Luciana Priami é locutora, audiodescritora e produtora audiovisual com mais de 20 anos de experiência facilitando a comunicação de empresas com seu público alvo e colaboradores. Atende clientes como Netflix, SBT, Rede Record, Sesc, entre outros.