A empatia e a realidade virtual para uma realidade mais real
Sabemos do papel e da importância que a empatia exerce em nossas vidas. Desde que nos conhecemos como gente, a maioria avassaladora temos a anatomia, a fisiologia e as condições psíquicas para cultuarmos essa habilidade. No entanto, o cultivo da empatia depende diretamente de outros fatores socioemocionais. Dependem de nosso estilo de vida, dos grupos com os quais nos relacionamos e trocaos, de nossas atividades profissionais, nossas crenças e por aí vai. Ou seja, podemos ter tanto pessoas altamente altruístas e que amam se doar, como pessoas que enxergam apenas seu microcosmo que gira ao redor do “eu”.
Também já está confirmado que a empatia pode ser desenvolvida, aprimorada. Há dezenas de estudos que atestam este fato através de resultados mensuráveis, realizados com pessoas reais e métodos científicos bem estruturados.
Agora, e se pudéssemo ter uma forcinha a mais neste processo do culto empático e que estivesse ao alcande de nossas mãos? Maravilhoso, não acha? Pois é, aparantemente a tecnologia vem demonstrando sua pontecial contribuição na cosntrução de sociedades mais conectadas, que prezam pelo diálogo e pelo espírito da coletividade.
Um estudo recente realizado pelo Interdisciplinary Center (IDC) Herzlya, de Israel, analisou a resposta emocional de um grupo formado por 70 mulheres durante a exposição a um vídeo de uma pessoa relatando uma experiência dolorosa. Metade do grupo assistiu à versão do vídeo em 2D, enquanto a outra turma assistiu ao mesmo vídeo com óculos de Realidade Virtual (RV).
Graças a fios presos, conseguiu-se monitorizar os sinais fisiológicos de ambos os grupos, como contração dos músculos faciais ou a resposta fisiológica
A que tudo indica, as mulheres expostas ao vídeo em RV se identificaram mais com o que ouviram, colocando-se no lugar da pessoa do vídeo. Este grupo, se comparado ao outro, manifestou uma maior propensão em imitar os trejeitos e expressões da protagonista da história. Essa capacidade de “espelharmos” os sentimentos do outro através de trejeitos e expressões faciais está intimamente ligada à empatia afetiva, que é um dos tipos de empatia. A empatia afetiva é aquela ligada à nossa habilidade de nos conectarmos com emoções e sensações de outra pessoa.
A Realidade Virtual e a Empatia
Para nosso cérebro, o “ver” e o “fazer” são a mesma coisa, ou seja, o cérebro não diferencia realidade de imaginação. Isto ocorre pois o processo é igual: os sentidos acionam redes neurais, disparam impulsos eltromagnéticos para nosso cérebro que “entende” o estímulo. Em vários experimentos, confirmou-se este fenômeno cientificamente. Em alguns deles, uma parcela das pessoas recebia um leve choque e a reação da dor era medida por eletrodos, formando um gráfico na tela do computador da equipe de neurocientistas. Um outro grupo, que não recebia o choque mas via outras pessoas levando choque, disparavam respostas muito semelhantes ao do primeiro grupo. A existência de neurônios especializados em mimetização explica e parte esta característica do nosso cérebro. Refiro-me aos neurônios-espelho, descobertos na década de 90, em Parma, pelo neurofisiologista Giacomo Rizzolatti e sua equipe de pesquisa.
Estes neurônios são capazes de espelhar gestos, expressões, movimentos e até emoções ou sentimentos. A empatia afetiva que citamos neste texto tem ligação direta com este tipo de rede neural. De certa forma, podemos afirmar que, para nosso cérebro, realidade virtual é realidade real. E isto é muito bom sob a perspectiva da diversidade e inclusão! Imagine usar os recursos de realidade virtual em profissionais de saúde para entender melhor pacientes! Ou por gestoras e gestores dentro de empresas para tomarem a perspectiva e enxergarem as “dores” de colaboradores(as) e fornecedores(as)!
É lugar comum afirmar que os avanços tecnológicos são evidentes e impactantes no nosso estilo de vida em sociedade. A tecnologia faz parte das nossas vidas de uma forma muito estruturada. Agora, estudar a influência de toda essa tecnologia no desenvolvimento das habilidades socioemocionais de seres humanos parece ainda ser um tópico pouco debatido ainda. Fico aqui pensando no grande auxílio que a realidade virtual possa imprimir principalmente junto ao público infanto-juvenil, que já trazem uma grande familiaridade com este universo cibernético.
Entendo que uma das perguntas a serem feitas com mais frequência por nós, em um mundo complexo e plural, seria: “como toda essa revolução tecnológica pode fazer de nós seres mais humanos?”. Deixo aqui essa reflexão. Grato.
Link para o estudo (em inglês): https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0747563221001047
Rodrigo Credidio é consultor em Empatia e Comunicação Inclusiva, co-criador da Oficina de Empatia e sócio-fundador da Goodbros. Com experiência de 16 anos como executivo de marketing e comunicação, possui formação em Emprego Apoiado, Teatro de Improviso e Neurociências aplicadas ao Desenvolvimento de Pessoas e de Negócios.