Acessibilizar é preciso!

retângulo vernelho com textos em branco e foto de Carol Pacheco

Olá, sou a Carol Pacheco, produtora de eventos, community manager e pesquisadora de recursos de inclusão e acessibilidade. E por que e como a pesquisa por inclusão e acessibilidade entrou no meu currículo? Esta história eu vou contar agora.

Sofri um grave acidente de carro no final de 2016. Tive múltiplas fraturas que resultaram em sequelas. Hoje sou uma pessoa com deficiência física. Meu tratamento foi um processo. Passei um período acamada, depois cadeira de rodas, andador e, hoje em dia, uso muleta.

E foi durante esse processo que fui sentindo na pele os impactos e barreiras que eu nem sabia que eram barreiras, que comecei a ver e entender o que as pessoas com deficiência passam - do preconceito até dificuldades ou até impedimentos para realizar simples tarefas do dia a dia.

E foi assim que a inclusão entrou na minha vida. No momento que eu estava mais vulnerável, que comecei a entender que poderia fazer alguma coisa para melhorar, inicialmente a minha situação. Mas em consequência, vi que não era só eu não e que a falta de acessibilidade é algo que afeta a vida de mais 45 milhões de pessoas diariamente. Isso só aqui no Brasil.

Comecei a estudar tudo o que eu podia sobre acessibilidade. Ainda estudo, faço aula de LIBRAS, audiodescrição, entre outros recursos e ferramentas que tornem reais e possíveis incluir a acessibilidade na minha profissão pelo menos, pois sem acessibilidade, não temos como ter inclusão.

Venho aprendendo muito nesse caminho e o que mais me incomoda são as pessoas com deficiências diversas que não participam de uma vida social por conta de barreiras que podemos mudar. A mesma vida social que eu lutei tanto durante meu tratamento para ter de volta. Demorou mas eu consegui, com a ajuda de muitos médicos (viva o SUS!), do meu jeitinho. Com minhas novas características e muita força de vontade para fazer acontecer consegui passar essa fase. Só que no caso de muitos, não é só uma fase, é a vida inteira.

E não estou falando que ser uma pessoa com deficiência é ruim não! As barreiras que são horrorosas. Pessoas surdas, cegas, com paralisia cerebral, com autismo, cadeirantes, enfim, uma diversidade de pessoas com diferentes características, que por barreiras urbanísticas, arquitetônicas, comunicacionais, no transporte, tecnológicas e atitudinais (a que mais me dói), não conseguem viver uma vida tranquila, ter seu direito de ir e vir cumprido.

Não sou maluca e acho que vou salvar o mundo sozinha. Calma aí, também! Rs. Eu aprendi nessa fase também a lidar com o tempo, a aceitar ajuda e que ninguém faz nada sozinho. Mas fala sério: se cada um fizer a sua parte, juntos podemos fazer diferente e melhor.

Penso todos os dias como eu posso fazer para melhorar e mudar isso, pelo menos no que tiver ao meu alcance. Me culpei durante um tempo por nunca ter pensado nisso como produtora de eventos, a não ser quando tinha um bombeiro atrás de mim. Mas resolvi, ao invés de ficar me culpando, estudar, ir atrás, descobrir, conhecer, escutar e entender as pessoas que precisam de acessibilidade para serem incluídas.

Senti e sinto na pele o que antes eu nem poderia imaginar e nunca tinha nem passado pela minha cabeça: que uma foto sem texto alternativo, por exemplo, era um nada para uma pessoa cega, que a música que eu amo tanto tem um outro significado e sentido para uma pessoa surda.

Enfim, inclusão para mim é escutar, entender e conhecer o outro. Para assim, de verdade, rolar a verdadeira inclusão, quebrar barreiras e ensinar as pessoas sem deficiência e até mesmo com deficiência, os mais diversos tipos de pessoas e as mais diversas formas que podemos fazer para que todo mundo tenha os mesmos direitos e os usufruam. O que desconhecemos não existe praticamente, né? E a falta de conhecimento gera a ignorância, o preconceito e o capacitismo.

Caroline Pacheco tem 34 anos e é pessoa com deficiência física. Atua como produtora de eventos, community manager e pesquisadora de ferramentas de inclusão e acessibilidade. Tem passagem pelas agências Scheeeins, Lovelife e Icons e hoje foca sua carreira na promoção de acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência tanto nos eventos físicos, quanto no meio digital. Faz parte do coletivo Diversidartes, projeto cultural que visa proporcionar maior visibilidade para artistas que são pessoas com deficiência.