Mais Empatia, Mais Gentileza, Mais Felicidade

duas menininhas negras de mãos dadas sobre uma ponte de madeira. Usam maria-chiquinha e vestidinhos

“Gentileza gera gentileza”. Célebre frase de autoria de José Datrino, ou então, o Profeta Gentileza, como era mais conhecido por todos nós, em especial pelos moradores da cidade do Rio de Janeiro por conta de suas pinturas de frases positivas e amorosas nos mais de 50 pilares que sustentavam o viaduto da Av. Brasil. Datrino investiu alguns anos de sua vida não só fazendo arte para promover a gentileza e a empatia, mas principalmente para distribuir palavras e gestões de amor e carinho entre quem mais precisava. Ao longo dos Anos 60, depois de um grande incêndio ocorrido em Niterói, cidade vizinha do Rio, Niterói, Datrino abraçou o papel de “consolador voluntário” e passou a dedicar seu tempo a confortar e amparar famílias das vítimas da tragédia através de palavras de bondade. Foi quando recebeu o apelido de “Profeta Gentileza”. O que mobilizou o “Profeta Gentileza” a ter este comportamento em prol do outro? O que o motivava a dedicar boa parte da sua rotina diária a conversar e abraçar desconhecidos?

A explicação do início deste processo pode residir na prática da empatia. Graças à presença de milhões e milhões de um determinado tipo de neurônio em nosso cérebro, chamado de “neurônio-espelho”, temos a capacidade natural de mimetizar gestos, movimentos, falas e comportamentos. É assim, inclusive, que iniciamos nosso processo de aprendizagem enquanto bebês, através da imitação e da observação do outro. Neste estágio de vida, estamos formando a empatia emocional ou afetiva, que é a nossa capacidade de assimilar e introjetar a mesma emoção que o outro está sentindo. Por volta de 2 anos de idade, nossos cérebros já têm as condições fisiológicas e cognitivas de dar um passo a mais na construção da empatia, desenvolvendo um outro tipo que se chama “empatia cognitiva”. A empatia cognitiva é o tipo de empatia que está ligada a se colocar no lugar do outro, já que envolve a nossa capacidade de compreender intelectualmente e racionalmente os processos mentais das outras pessoas. Ou seja, neste segundo tipo de empatia, existe uma inteligência e uma intencionalidade de ação. A prática desta ação é a gentileza. A partir do momento que eu sinto a mesma coisa que o outro sente e depois consigo imaginar os prováveis desdobramentos desses sentimentos na vida de outra pessoa, o próximo passo é fazer algo pelo outro como se fora para nós mesmos. É como se a gentileza, a tolerância ou a caridade fossem a consequência natural da empatia. A empatia posta em prática.

O Profeta Gentileza teve uma infância humilde de muito trabalho e dificuldade financeiras. Para ajudar a família, puxava carroça e vendia lenha. Muito provavelmente ele se via naquelas famílias e, desta forma, estabelecia uma empatia cognitiva tão forte que a consequência só podia ser o acolhimento, o carinho, a gentileza por aqueles que tinham perdido tudo e se viam perdidos.

Portanto, quanto mais praticarmos a nossa empatia, maiores as chances de colocarmos ela em prática sob a forma de uma atitude gentil. Saber como o outro se sente e pensa, aciona um mecanismo na gente por fazer algo de bom para aquela pessoa. E, a partir daí, é um caminho sem volta e que traz muitos e muitos benefícios para nosso corpo e mente. Gandhi costumava dizer que “a gentileza não diminui com o uso. Ela retorna multiplicada.” Criamos uma corrente do bem que ajuda o outro e que, mais à frente, retorna para nós também como forma de ajuda. Uma teoria defendida por Sam Bowles, PhD em Economia e professor de Harvard e do Instituto Santa Fé, nos Estados Unidos, é a de que o mais gentil sobrevive. A teoria de Bowles não apenas está em sintonia com os pensamentos de Charles Darwin, mas como parece dar o “caminho das pedras” para a humanidade. Se “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”, talvez a gentileza seja uma das melhores formas de se adaptar ao mundo e ao outro. Outra estudiosa e especialista no poder da gentileza é a psicóloga Sonja Lyubomirsky. Segundo resultados do estudo que conduziu pela Universidade da Califórnia, “gentileza e boa vontade estão relacionadas à felicidade e as pessoas que tentam ser mais gentis no dia a dia tendem a experimentar mais emoções positivas e se tornaram mais alegres”. Para o estudo, Sonja pediu aos participantes que praticassem ações gentis durante dez semanas, como se oferecer para lavar a louça, fazer elogios ou segurar a porta para um estranho passar. Todos registraram aumento na felicidade durante o estudo.

Portanto, se todos queremos uma vida mais feliz para nós mesmos, nossos familiares e amigos, seja mais gentil e pratique com mais frequência a solidariedade, priorizando diálogos e conexões humanas balizadas pela empatia, pela perspectiva do outro. E boa jornada!